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Mala (viajar com + de 60)

Minha mala e eu

                    Tudo o que eu possuía de material naquele momento estava ajeitado em camadas superpostas numa pequena mala, marrom, dócil ao manejo. Ela seguia meus passos como um cachorrinho fiel, mesmo quando era preciso, aos atropelos, subir ladeiras, escadarias, convés de navio, estribos de trens. Executávamos um duo sereno pelas ruas das cidades numa cadência contínua das rodinhas trilhando as minhas pegadas: Paris, Londres, Roma, Gênova, Cagliari, Agrigento, Tropea, Nápolis, Nice, Marselha, Avignon, Calais ....
          Foi escolhida ao acaso, e pelo bom preço, em Paris. Comigo cumpriu sua função neste mundo, carregou peso, conheceu países e lugares. Sempre cheia até o limite da sua capacidade, foi arrastada, atirada, amontoada, serviu de cadeira em momentos de espera. Levada a um sapateiro, na Itália, sofreu pequeno reparo, mas o conserto durou pouco.
                                                                                       fotos by: Ira
Em Avignon (França), na metade da viagem                            
       Mesmo com uma das alças arrebentadas e um rasgão no casco, continuou servindo. Agüentou bem uns 100 dias e - na sua última viagem - chegou repleta de livros, saindo da esteira, em Floripa, com apenas uma das rodinhas e sem nenhuma alça. 
                 Pedia colo. Claro que me afeiçoei a ela e, confesso, foi difícil me desfazer daquela legítima mala sem alça. Não queria abandonar assim uma leal companheira de viagem só porque ela perdeu a serventia.  
Porto de Nápolis
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