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Souvenirs (viajar com + de 60)

Souvenirs preciosos a custo zero
          
             Qualquer impulso de compras, roupas, supérfluos ou souvenirs era barrado no nascedouro pela contingência de carregar bagagem mínima. As lembranças vieram em fotos e gravadas na memória. Consistência e leveza.. Perdura o que aprendi sobre mim mesma e que ainda impulsiona mudanças na minha vida rotineira: não mais armários abarrotados, menos livros, menos produtos caros e inúteis, menos bobagens no carrinho do supermercado. É possível viver com bem menos do que eu supunha fosse necessário.
               Voltei mais confiante depois de ter provado o sabor indefinível de estar num lugar estranho, não conhecer nada nem ninguém, ouvir línguas estranhas sem compreender as palavras, tudo observar e não poder trocar comentários. Sensação indescritível, mas boa. Fui remoendo idéias, observando minhas reações em território neutro, confrontei medos e ilusões. Foi como enxergar de fora para dentro e ver, aos poucos, desabrochar uma outra “eu” que esteve até então oprimida.
           Reaprendi a olhar o mundo com o deslumbramento de criança que ainda me lembro. Como quem – a qualquer instante – vê algo pela primeira vez, tudo ao redor adquiriu novo interesse. Cada momento é único e não canso de admirá-los, inclusive aqueles que se repetem como o pôr-do-sol, que nunca é o mesmo todos os dias. O pousar suave e preciso de uma gaivota na praia é único cem vezes. Adoro andar pelas ruas vendo o desenho dos prédios contra o céu, as cortinas que balançam ao vento numa janela, o contorno das nuvens. O canto dos pássaros, uma risada, nada disso se repete ou entedia.
                                                                       Foto by Liu Hogjie
A vida é a minha viagem
      Curiosidade, entusiasmo, simplicidade, confiança, riso fácil, solidariedade. Características naturais da infância que, esquecidas, abrem espaço para sentimentos opostos àquela alegria genuína e espontânea de apenas viver o momento e sonhar com o futuro. Ultrapassada a porta dos 60 anos, fiz minha primeira viagem sozinha e aprendi mais sobre mim mesma. Quero escrever e descrever essa experiência como quem apenas vive e sonha.
          O presente é o meu momento absoluto, entendido que não posso mudar o passado e nada sei do futuro. Isso implica fazer escolhas do que realmente é importante para preencher esse momento. Nunca fui boa nisso, mas estou aprendendo que o presente é tão importante, mas tanto, que eu  p-r-e-c-i-s-o  saber decidir o que eu quero para mim  a-g-o-r-a. Não há segunda chance no aqui e agora. Ao mesmo tempo, só ele renasce e se renova a cada instante para que eu o prenda, apreenda, reaprenda. 
    Decidir é o passo que antecede todos os outros. Não desistir sem ao menos tentar mostrou-me que muitas coisas são fáceis embora pareçam impossíveis. Seguir em frente tornou-se meu lema (ah, é muito bom comprar passagens só de ida). A vida é a minha viagem. Quero ver tudo levando comigo só o que consigo carregar sem esforço e que seja útil naquele trecho do itinerário. Alterado o rumo, readapta-se o conteúdo da bagagem. 
           Quando se é criança não se fica pensando o tempo inteiro em acumular coisas, em garantir “segurança” para o futuro. Estou aprendendo a usar as coisas enquanto elas me servem. Quando não, elas podem ser trocadas, doadas, são substituíveis. Meu espaço cotidiano é limitado, preciso escolher como vou ocupá-lo sem atrapalhar meus movimentos. Meu orçamento, idem. Então, se quero dançar e conhecer novos lugares, é preciso aprender a ter menos coisas e gastar menos. 
     Para completar, minha rotina de caminhadas diárias durante aqueles quatro meses resultou num benefício adicional de quatro quilos a menos na balança. Posso dizer que voltei mais leve mesmo! De corpo e alma.
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Um comentário:

  1. Nossa, finalmente fomos presenteados com o teu blog! Está maravilhoso e nao poderia ser mais oportuno. Ainda nao consegui ler tudo, mas do que consegui, já estou amando. Fotos lindas, tudo lindo! Como tu, eu te amo! bjs Ro

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